segunda-feira, 14 de janeiro de 2008


* Photo: Alex Fradkin


da Carochinha

Deu-se a si em bandeja de prata
e se mais não pôde
foi por não lhe quererem
(por ela, já o teria feito)
E não foi a paga esperada, a que recebeu.
Desistiu de tudo, das tardes de domingo na sogra
ao Amor, filhos, curso de pilates e ikebana.
Quis desistir, pular do mundo
(o abismo de fora, parecendo menos profundo)

De idéia em punho, espera a deixa (coragem?),
Eis,
vem o destino interromper-lhe a viagem.
Enquanto lança o último afago ao cachorro,
olha a ponte à sua espera, que quase sorri.
A galope em cima dela, um andante.
Sujo, roto, mas ah, nos olhos
nos olhos mil estórias cantantes.
Estende uma rosa, carmim,
que levemente ajeita em seu cabelo,
(tendo sentido talvez, do toque, o apelo)
“- Levanta o queixo menina, que a vida é muita
e se a aurora’inda vai alta, é porque é cedo.”
E é assim, na mais piegas situação,
que ela flor, de flor no cabelo
atira da ponte só a dureza e a mágoa
do alto de sua mais sábia decisão
e nesse gesto faz sua escolha:
permuta o frio do obituário
pelo verde olor do orquidário
onde vai todas as tardes passear.
Flor em seu devido lugar
belo dia desses
alguém há de se encantar por sua beleza
e se ela der sorte, refeita,
há de ver a beleza mesma nestes outros olhos.
Já não chora,
(no máximo rosna; ou ronrona)
Vida, às vezes é fardo
outras é encanto.
Viver amor é arriscar muito, tudo, e tanto.
Suicidar-se? A idéia certeira de outrora
por baixo da ponte, de longe
vislumbra a flor com espanto.

4 comentários:

Anônimo disse...

"Viver amor é arriscar muito, tudo, e tanto."

Arrisco tudo

beijos

C.T.H.

octavio roggiero neto disse...

dignificar o amor com a ousada decisão de viver de peito aberto. suas palavras me fazem um bem. você é um dos mais belos espetáculos da natureza humana.
beijos, todos os beijos que couberem nesta manhã-quase-tarde!

Leandro Jardim disse...

fantástico! lindo lindo, cara Luzzsh!

Anônimo disse...

Montado em cavalo lembra clichê, mas aí lê-se um bocado mais e remete à Luzzsh.

Bjs e reflexivas invenções!