terça-feira, 27 de novembro de 2007




*Photo: Andre Baranowski


dos descomedimentos plausíveis


Amar demais. Pressuporia [talvez] amar além da conta, do esperado, além do quanto se costuma ver amar por entre as ruas cinzas, de poucas paixões. acontece baby, que talvez não haja, talvez não exista uma única chegada, um limite, um ‘stop’. talvez amar seja algo tão imenso por si só, que a própria medida básica, mínima e máxima, seja sempre essa: demais. talvez o copo do qual falamos nunca transborde. e, mesmo que isso aconteça e venha o amor invadir outros espaços e cantos e frestas, ainda assim talvez não seja amor o demasiado, mas má escolha da taça com que se quis apará-lo. ou ainda, tivesse ele sido sorvido em goles maiores e quem sabe. Quem é que sabe. Eu é que não.

Talvez sejam apenas desculpas geradas pela embriaguez amorosa, balbuciações de alguém cujos limites sempre tardam. alguém que, de uma maneira malditamente piegas, não sabe amar menos que amor de uma vida inteira em cada segundo. Entornar a taça. Lambuzar orelhas, bocas, medos, dedos, seios, todos os pentelhos dessa vida seca e sóbria demais para ser levada a sério.


quinta-feira, 22 de novembro de 2007



*Photo: Darren Greenwood




Ahimsa


Após assistir ao filme Lions for Lambs.


Como ninar a completa falta de sonhos

em noites de lucidez desperta?


Fechar os olhos. Desadormecer.

Fingir descanso. Prozaquear.

É injusto que durmamos o sono dos justos.

Porque compactuamos,

ajustados, imersos, inseridos,

compactuamos.

Arrebanhados, compactuamos.


Vejo pequenos estopins de boa vontade

entre ferozes labaredas de inércia

(não falo só de mim; não falo só dos outros)


Eu, que achava que ia mudar o mundo

hoje faço poemas como quem grita.

Baixo.


(Silêncio: a Consciência Humana, agora, dorme.)




terça-feira, 13 de novembro de 2007



(des)proteção

Você existe no silêncio que eu faço
enquanto fito a chuva fina
a desenhar na vidraça
pedaços de ti, seus estilhaços.
Você espreita minha eterna contenda
intermediando o non-sense
entre o tudo que eu quero,
o que preciso, e penso querer.
(Nunca entre o que já tenho).
Você incita meu desejo perene,
desarma meu olhar tempestivo,
o meu mais profundo segredo.
Você me assanha os sonhos azuis
espanta de mim, pesadelos reais
embala sono, cansaço, lua alta,
corpo inerte, minha entrega.
É perigo esperado, risco ansiado,
aceno de adeus ao que é calmaria.

Você mora na minha falta de cuidado.


*Photo: David Chapman

quinta-feira, 8 de novembro de 2007






AdVir do Verbo



Eu danço mal.

Outros verbos
conjugo melhor.
Sentir,
precisar,
fenecer.

Mas não conjugo
- tampouco julgo -
teu verbo amar.

Na língua humana
Amar
quase nunca é
o que parece.

Digo sempre ‘eu te amo’;
verbalizo o doce engano.

(É que Amar é dos verbos,
o meu preferido.)