Same another
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Sua vida, ah, sua vida era um álbum de figurinhas, daqueles difíceis de completar. Sempre havia um item faltante. Espaços vazios vinham pintar de branco o colorido das folhas. Colecionava dias; muitos iguais e outros nem tanto. Figuras distorcidas, advindas da arte abstrata e incauta de transferir-se de um dia ao outro sem ferir-se demais.
Abria pacotinhos de surpresa todas as manhãs. Figuras repetidas, quantas; quase todas. Risos, choros, saudades, mágoas, borboletas. Um dia, sem mais nem menos, meio por não saber lidar com aquilo, começara a colecionar eu te amos. Mais por achá-los bonitos, assim como eram, nascidos de idéias românticas e cor-de-rosa que por qualquer outro motivo. Eu te amos grandes, pequenos, sonoros, murmurados, vulgares, talvez verdadeiros.
Graça nenhuma. E o vazio, completamente cheio.
Mas um dia acaba e vem o outro. Dia desses, passara a ter predileção por uma certa categoria de sua coleção: a de eu te amos repetidos. Todos iguais, vindos da mesma boca. Passava horas contemplando estupefata e satisfeita, aquela nova porção de seu conjunto – sem nenhum valor do ponto de vista de colecionador, já que o que se via do começo ao fim, eram repetições. A raridade dessa vez, quem diria, advinha agora exatamente da vulgaridade e mesmice de eu te amos brotados da mesma boca.
A vida é estranha, ela pensa; eu te amos mesmos por si só se completam: páginas preenchidas. Outras em branco. Nova etapa. Novos vazios e vontade alegre de preenchê-los. Tempo agora em sua vida, de colecionar canções.
* Photo: Mandy Pritty