segunda-feira, 22 de outubro de 2007



Risco

É o desejo
de querer essa falta,
a nascente mor
da minha saudade.
Se eu me estrepo
- fim de bicho irrequieto -
é por querer
quanto mais amar,
Amor.
Se dói, eu grito,
mas não me arrependo.
Nem me permito.

(Quem atira no escuro
sempre pode acertar
o lado improvável da escolha.)



*Photo: Paul Anderson

segunda-feira, 15 de outubro de 2007



Same another
.

Sua vida, ah, sua vida era um álbum de figurinhas, daqueles difíceis de completar. Sempre havia um item faltante. Espaços vazios vinham pintar de branco o colorido das folhas. Colecionava dias; muitos iguais e outros nem tanto. Figuras distorcidas, advindas da arte abstrata e incauta de transferir-se de um dia ao outro sem ferir-se demais.
Abria pacotinhos de surpresa todas as manhãs. Figuras repetidas, quantas; quase todas. Risos, choros, saudades, mágoas, borboletas. Um dia, sem mais nem menos, meio por não saber lidar com aquilo, começara a colecionar eu te amos. Mais por achá-los bonitos, assim como eram, nascidos de idéias românticas e cor-de-rosa que por qualquer outro motivo. Eu te amos grandes, pequenos, sonoros, murmurados, vulgares, talvez verdadeiros.
Graça nenhuma. E o vazio, completamente cheio.
Mas um dia acaba e vem o outro. Dia desses, passara a ter predileção por uma certa categoria de sua coleção: a de eu te amos repetidos. Todos iguais, vindos da mesma boca. Passava horas contemplando estupefata e satisfeita, aquela nova porção de seu conjunto – sem nenhum valor do ponto de vista de colecionador, já que o que se via do começo ao fim, eram repetições. A raridade dessa vez, quem diria, advinha agora exatamente da vulgaridade e mesmice de eu te amos brotados da mesma boca.
A vida é estranha, ela pensa; eu te amos mesmos por si só se completam: páginas preenchidas. Outras em branco. Nova etapa. Novos vazios e vontade alegre de preenchê-los. Tempo agora em sua vida, de colecionar canções.



* Photo: Mandy Pritty

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

















Inabilidade


Nas mãos trago rosas

espinhos, seus talhos, perfume.

Nuns dias, eu: mais flor.

N’outros eu: estrepe.

Ambos me delineando

com a precisão atroz

de um espelho fiel

de similitudes

entre mim, a rosa, nossos espinhos.


(E quando eu firo, nem sempre é por mal).




*Photo: Autor Desconhecido