Eu permito
Eu permito que você queira
numa noite anil e quente,
fazer amor comigo
até o suor grudar meus cabelos
em nossas faces rubras, exaustas.
Eu permito que você me
mande flores, mesmo
com certa pena de as pequeninas,
que logo morrerão, só para
me embevecer com beleza por
dois, três dias no máximo.
Eu permito que você apareça em casa
sem ser convidado ou avisar que vem,
estragando meus planos para a noite
de vinho branco, leitura e Coltrane.
Eu permito que, no restaurante,
você meta delicadamente o pé
por entre minhas coxas,
ziguezagueando com muito tato
como se não soubesse o caminho.
Eu permito que você acorde e
corra viciadamente ao site da bovespa
“Por interesse e prazer”- segundo vc diz.
(Não entendo, mas permito).
Eu permito que você me mime
com presentes, carinho, chocolate e
aquela batata frita que eu digo pra você
não comprar porque engorda horrores
e que eu só paro de comer quando acaba.
Eu permito que você queira
fazer experimentações de amor comigo,
que você tente fumar
e acabe por desperdiçar meus cigarros.
Eu me esquivo, não é por mal,
não costumo me deixar amar, amor.
Mas, se você quiser,
eu permito que você me ame
de peito aberto e coração exposto,
da maneira mais ardil e verdadeira,
com o que há de bom e de ruim.
Em você. E em mim.