domingo, 13 de julho de 2008




Poemas de infância


Ah, tem-se que abrir o coração. Garotas românticas não têm outro destino. Elas sabem que janelas fechadas dificultam a entrada de assaltantes e resfriado, mas também impedem a passagem da lua para dentro do quarto. Não há como viver com a alma sem cor pela porta trancada, onde luz alguma adentra para iluminar os cantos. Há todos esses espinhos no meu quarto e o desejo comedido de ter a luz acesa para me esquivar deles. Mas, se acendo a luz, perco os desenhos feitos pelo encontro da penumbra com o farol dos carros pela persiana. Cecília já me dizia quando criança – mas só agora entendo – que é assim: “ou isto ou aquilo”. Acho que não deviam ter-me lido poesia quando eu era pequena. Meu imaginário povoou-se de idéias de ternura e tempestades, idéias de que sem paixão, não é para ser, não é para sequer, se mover. Não sei agir diante da dureza e do caos. Ninguém sabe. Eu, menos ainda. E agora, eu aqui, me decidindo se vou pelo caminho fácil, ou se continuo pelo meu caminho, onde tudo nunca é menos que em demasia. É que às vezes quase canso e queria saber seguir sem sentir tanto, tudo. Mas não sei se posso, se consigo. Talvez não me seja permitida a brandura das coisas. Amores ou dores, só em rompantes, jorros, espasmos. Logo pra mim, que queria não sentir, que queria pra mim, toda a sobriedade advinda da covardia de não sentir nada. Logo para mim, que, quando criança, quase morri de pena do Bandeira, por saber que o porquinho-da-índia que ele tanto amava, não queria sair debaixo do fogão.


7 comentários:

J.F. de Souza disse...

Denso, mas, ainda assim, sublime...
("Densublime"?) =P

"Não sei agir diante da dureza e do caos. Ninguém sabe." Perfeito!


Muitas saudades...


=*

RPA disse...

Olá,
Vim lhe apresentar a mais nova Web Rádio, feita especialmente para o pessoal que curti músicas artísticas culturais.

Site: www.rpawebradio.com.br
Blog: www.rpawebradio.blogspot.com

Anônimo disse...

Plagiando, sem saber ao certo quem: "Nem sempre as circunstâncias são como queremos, mas podemos escolher a forma de reagir a elas."

mg6es disse...

há ventos e adventos... todo barco é dotado de ferramentas para todas e quaisquer circunstâncias... creio.

queria poder mais.

bjo.

(L)

Anônimo disse...

quem, pequena, desfralda bandeiras ou embala cecílias, quando cresce jamais escapa da poesia e suas consequências... beijo.

júlia disse...

não sabes agir diante do caos, mas será que não é por ele que tanto pedes? quem sonha não suporta a perfeição do que é e deu, da organização constante.
acredito que pode até doer, mas uma vez que vimos tudo o que já vimos, não desejamos a cegueira. seria quase insuportável.

adorei o blog, vou voltar! :)
beijos

Thaís disse...

A muito procuro vocês,pessoas com igual sentimento meu.Enfim,meu coração descansa em paz por saber que existe um lugar onde posso ouvir e espressar meu amor pela poesia,doce poesia,que toca de leve no coração e faz refletir até o mais indiferente...

amei o blog =3 beijos =*