segunda-feira, 15 de outubro de 2007



Same another
.

Sua vida, ah, sua vida era um álbum de figurinhas, daqueles difíceis de completar. Sempre havia um item faltante. Espaços vazios vinham pintar de branco o colorido das folhas. Colecionava dias; muitos iguais e outros nem tanto. Figuras distorcidas, advindas da arte abstrata e incauta de transferir-se de um dia ao outro sem ferir-se demais.
Abria pacotinhos de surpresa todas as manhãs. Figuras repetidas, quantas; quase todas. Risos, choros, saudades, mágoas, borboletas. Um dia, sem mais nem menos, meio por não saber lidar com aquilo, começara a colecionar eu te amos. Mais por achá-los bonitos, assim como eram, nascidos de idéias românticas e cor-de-rosa que por qualquer outro motivo. Eu te amos grandes, pequenos, sonoros, murmurados, vulgares, talvez verdadeiros.
Graça nenhuma. E o vazio, completamente cheio.
Mas um dia acaba e vem o outro. Dia desses, passara a ter predileção por uma certa categoria de sua coleção: a de eu te amos repetidos. Todos iguais, vindos da mesma boca. Passava horas contemplando estupefata e satisfeita, aquela nova porção de seu conjunto – sem nenhum valor do ponto de vista de colecionador, já que o que se via do começo ao fim, eram repetições. A raridade dessa vez, quem diria, advinha agora exatamente da vulgaridade e mesmice de eu te amos brotados da mesma boca.
A vida é estranha, ela pensa; eu te amos mesmos por si só se completam: páginas preenchidas. Outras em branco. Nova etapa. Novos vazios e vontade alegre de preenchê-los. Tempo agora em sua vida, de colecionar canções.



* Photo: Mandy Pritty

4 comentários:

Anônimo disse...

O tempo é estranho, a vida ainda mais. Havia tempo em que se ouvia e se via com afeto a quem desejasse e sentia ainda o mesmo desejo vindo. Hoje, me peguei pensando ser parte de uma coleção, (desta coleção?) me senti o menor grão de areia do Saara. Ainda assim, eu pelo menos sou colecionador de uma figurinha só, mesmo que doa, é minha dor perene, solitária e eterna.

Cometa Azul

Anônimo disse...

E pelo tempo, sabores da vida mudando os rumos...
Palavras fazendo brotar rodas vermelhas na face...
E o repetido se fez novo, cantando, mas doce das palavras.

E eu sempre encantado ao vir aqui.

:*

Leandro Jardim disse...

perfeitinho e bom demais! :)

beiJardins

Anônimo disse...

Nss! Não visitava aqui de algum tempo,,, Mas gostei das mudanças, mesmo que você obrigue o leitor, cegueta e preguiçoso, a colar olhos na tela, rsrs

De como colecionamos tudo,,, e esse tudo se transforma no futuro... tenho lido dia desses e-mail enviado à antigo amor,,, e ele era tão idiota! rs

Muito curto e muito perfeito teu texto... gostei ler!