quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Photo: Kristy Anne Glubish



Baseado em fatos (sur)reais


Faltou amor. Faltou amor para um novo primeiro carinho de [re]aproximação. Faltou amor que suplantasse a mágoa, que fizesse olhar para diante, o que vem depois da percepção. E faltou amor para acreditar que valia a pena, para fazer valer a crise, para trazer mais amor com a mudança. Faltou amor quando a pequena criança sentiu falta do cachorro e se inventou uma viagem de mentira sem data de retorno. Faltou amor quando se cedeu ao cansaço; faltou amor para olhar para um futuro possível. E faltou amor suficiente para assumir o risco de se querer mudar; e faltou amor necessário para cuidados diante da fragilidade alheia; faltou amor para fechar os olhos e seguir, sem saber para onde, apenas com fé no sentimento que vinha no peito, arrancando suspiros e soluços e alegrias e medos e vida. Deixando passado e futuro de lado, no momento exato – no melhor presente – faltou amor de um lado (ausência inconsciente) enquanto sobejou amor do outro. Mas faltou amor mesmo foi no olhar duro e turvo que condenou imediatamente o erro cometido como se fora ele o mais imperdoável dos enganos: o que comete quem deixa faltar amor no instante crucial, no mais carente auspício de amor maior.

domingo, 24 de fevereiro de 2008



Photo: images.com



- Você tem um sorriso lindo. Porque você não ri só com a boca, sabe, você ri com os olhos. E é um sorriso que ilumina, que entra pelas frestas e desenha nas paredes da casa-coração.
- Você acha mesmo?...não sei...meu sorriso nesses últimos tempos possui uma certa mácula; não no da boca, há um quê no sorriso dos meus olhos...não, definitivamente não é o meu melhor sorriso.
- Mas há o brilho, o pessoal, né; e esse não se apaga, não se esmorece. Esse é que dá graça e beleza, é a parte verdadeira e perene do teu sorriso maculado por ora.

(...)

- Tomara que meu sorriso de verdade volte logo, né?...ou vou querer, feito Macabéa, saber onde é que se compra um buraco.
- Volta sim, doce menina. Como eu disse, é teu. Há um abraço aqui. Ajuda...?
- Ô.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

*Photo: Jacob Lindner



Enxuguei as lágrimas.
amarrei as memórias com
laço de fita, as lancei ao mar.
meu coração é imenso e,
embora errante, sobeja
doçura e desejo ardente
nele impressos desde sempre.
Meu coração é jovem, corajoso
e merece o melhor do mundo.
Enxuguei as lágrimas.
Caminho em frente,
de coração vazio, mas desperto,
até a esquina derradeira
em que eu encontro a pessoa mais bonita.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

* Image: images.com

Ser, estar

Eu estou aqui,
à beira desse precipício enorme
nessa noite cheia de medos e perigos
que só conhece quem escolheu
a trilha incerta que leva ao sonho
Eu estou aqui,
de peito aberto e dolorido
quietinha, olhar no horizonte
(olhar muito além do horizonte)
aquele que só quem ama muito sabe
Eu estou aqui,
e não sei se choro tudo
se enxugo a lágrima, e vôo;
se vou tratar de esquecer
Eu estou aqui,
entre doce, salgada, tua
esperando o abismo sumir sozinho
ou me levar com ele e se assim for,
sair à francesa, de remanso,
sem deixar vestígio algum
do quanto eu estive aqui.


Image: images.com



Da imprevisibilidade


Hoje, esperei milênios por um telefonema que não veio. Mas, não vindo, estranhamente me disse muito. E me disse sem que eu deixasse, sem que eu perguntasse, sem que eu permitisse. Foi assim, despejando verdades em cima de mim o telefonema que não recebi. Me contou coisas sobre outros, mas principalmente sobre mim; me sussurrou aos ouvidos cantigas que eu só pude ouvir por ter me tornado silêncio. O telefonema que não veio, me contou sobretudo, histórias de amor e desamor.
Hoje, recebi um telefonema que eu não esperava. E, passado o espanto, ao atender achei que sabia o que vinha, mas não sabia. E eu ouvi palavras que me contavam sobre dores e amores, mas diziam mais. Diziam de como a vida pode ensinar. E eu me tornei silêncio, não porque eu quis mas pelo nó, que sem querer, formou-se em minha garganta. Também este telefonema me contou histórias, das mais impensáveis às mais conhecidas. Eu ouvi. Aturdida, o coração pulsando nas mãos.

Hoje, muitas histórias sobre mim, me estão sendo contadas.


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008



*Image: Unknown


Parte da arte

Eu não sei fazer brotar dos meus dedos
flores de papel
tampouco lamparinas,
borboletas
ou outros de nós, animais.
mas eu sei apreciar flores de papel
amá-las por sua fragilidade
sem desprezá-las pela artificialidade
(em tudo há beleza a ser extraída).
Sei ainda,
que se eu dobrar estes dias alheios
em pequenos pedaços
vermelhos
posso criar pouco a pouco
um céu carmim que melhor me reflita
e que me permita voar livremente
um milhão de horizontes.
é passional o meu desejado céu infinito
esse que esbarra na minha garganta
e que não poderia ser de outro tom
se desejasse mesclar-se ao que sou:
origami forte frágil, figura inábil
movendo-se no balanço do móbile-mundo.