segunda-feira, 24 de setembro de 2007



Razbliuto


Mas
é nas paredes
sim, nas paredes

da minha casa-coração

que eu não vejo mais
os quadros que você pintou.

E eu não sei se espero
que você entenda o quanto
o branco das paredes me entontece

mas eu rodopio de braços abertos

espreito a manhã subindo
enquanto espero o sol
caber na moldura da minha janela.

Sinto uma falta. Qualquer.

branco-vazio

branco do olho

Eu feito roleta.

A coisa: preta.

Roleta:
Russa.

* Photo: Jayne Hinds Bidaut

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Ver[ter]-te



Por baixo da saia


da menina dos olhos


se o que arde é quente


doce e demente,


Mais arde é o coração, pulsante,


que ama e cala, enquanto consente.



terça-feira, 11 de setembro de 2007

Desabitat

Hoje eu canto coisas pequenas
pedriscos, ruelas, tampinhas de garrafa
não há nada em mim maior que isso
não há desejos grandes ou pequenos
só há espaço em mim para minusculezas.
Hoje,
a menos que o etéreo se apequenine
a ponto de caber na garrafa de bourbon
esta noite, ele não caminha ao meu lado.
Acordei estrangeira, humanizada demais
- não poeta, nem pincel, ou borboleta -
hoje meus olhos não vêem bem,
não enxergo todas as cores do cinza
a sombra da brisa ou nota de música.
Hoje, arrasto desconhecidas correntes
mãos e pés se machucando
enquanto eu,

me debato

para sair desse (ir)real
e voltar pro abstrato.

(Eu
não sei
ser

humana.)

sábado, 8 de setembro de 2007

Eu permito

Eu permito que você queira
numa noite anil e quente,
fazer amor comigo
até o suor grudar meus cabelos
em nossas faces rubras, exaustas.
Eu permito que você me
mande flores, mesmo
com certa pena de as pequeninas,
que logo morrerão, só para
me embevecer com beleza por
dois, três dias no máximo.
Eu permito que você apareça em casa
sem ser convidado ou avisar que vem,
estragando meus planos para a noite
de vinho branco, leitura e Coltrane.
Eu permito que, no restaurante,
você meta delicadamente o pé
por entre minhas coxas,
ziguezagueando com muito tato
como se não soubesse o caminho.
Eu permito que você acorde e
corra viciadamente ao site da bovespa
“Por interesse e prazer”- segundo vc diz.
(Não entendo, mas permito).
Eu permito que você me mime
com presentes, carinho, chocolate e
aquela batata frita que eu digo pra você
não comprar porque engorda horrores
e que eu só paro de comer quando acaba.
Eu permito que você queira
fazer experimentações de amor comigo,
que você tente fumar
e acabe por desperdiçar meus cigarros.
Eu me esquivo, não é por mal,
não costumo me deixar amar, amor.
Mas, se você quiser,
eu permito que você me ame
de peito aberto e coração exposto,
da maneira mais ardil e verdadeira,
com o que há de bom e de ruim.
Em você. E em mim.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Enternecer

Arrefecer

Nunca deixar de vagar.

Da ponta da língua

novas paisagens

querendo de dentro saltar

O Lume apaga suas linhas

resquícios, sinais de existência.

Procura um novo caminho

Nas asas, menor inocência.

Lépido, espalha-se à frente:

o mundo é tosco, mas vasto.

E sempre há lugar

para lumes menos castos.

Novas asas para si

através de novas linhas.

Tem agora início aqui

uma nova história minha.