domingo, 13 de julho de 2008




Poemas de infância


Ah, tem-se que abrir o coração. Garotas românticas não têm outro destino. Elas sabem que janelas fechadas dificultam a entrada de assaltantes e resfriado, mas também impedem a passagem da lua para dentro do quarto. Não há como viver com a alma sem cor pela porta trancada, onde luz alguma adentra para iluminar os cantos. Há todos esses espinhos no meu quarto e o desejo comedido de ter a luz acesa para me esquivar deles. Mas, se acendo a luz, perco os desenhos feitos pelo encontro da penumbra com o farol dos carros pela persiana. Cecília já me dizia quando criança – mas só agora entendo – que é assim: “ou isto ou aquilo”. Acho que não deviam ter-me lido poesia quando eu era pequena. Meu imaginário povoou-se de idéias de ternura e tempestades, idéias de que sem paixão, não é para ser, não é para sequer, se mover. Não sei agir diante da dureza e do caos. Ninguém sabe. Eu, menos ainda. E agora, eu aqui, me decidindo se vou pelo caminho fácil, ou se continuo pelo meu caminho, onde tudo nunca é menos que em demasia. É que às vezes quase canso e queria saber seguir sem sentir tanto, tudo. Mas não sei se posso, se consigo. Talvez não me seja permitida a brandura das coisas. Amores ou dores, só em rompantes, jorros, espasmos. Logo pra mim, que queria não sentir, que queria pra mim, toda a sobriedade advinda da covardia de não sentir nada. Logo para mim, que, quando criança, quase morri de pena do Bandeira, por saber que o porquinho-da-índia que ele tanto amava, não queria sair debaixo do fogão.


terça-feira, 1 de julho de 2008





Debalde

Para William,
que incita minha mente
a poemar com palavras engraçadas.


Teu sorriso suave,

(lhano)

desentorta meu mundo,

(plano)

torna-o mais que sereno:

(pleno)