domingo, 29 de junho de 2008



*Photo: Jamie Grill


Jogo dos sete mil erros


Eu erro.
E se eu erro por ser tola
erro mais porque tento muito.
Porque não desisto
não me frustro, não me condeno.
Só os grandes sabem reconhecer
a significância dos seus erros
porque não há nessa vida
do que não se possa extrair beleza.
(tento acertar a direção da retina).
Erro tanto que chego a duvidar,
mas nunca o suficiente para desistir.
Apreendo do mundo suas nuances
suas diversas facetas;
Muitas delas me divertem
(outras, confesso, nem tanto)
Erro muito por ser serelepe
bicho inquieto achando que,
se não por esse,
algum caminho, dá pé.
Quem sabe errando tanto
eu não acumule pontos tantos
que possam ser trocados
no balcão do fim dos dias
por um acerto tamanho p?
Um acerto de consolação?
Um dia eu aprendo.
Ou morro tentando.
Porque na persistência
para perseguir acertos,
há corações e CORAÇÕES.

domingo, 22 de junho de 2008



*Photo: Images.com



Duetos

Um poema sobre o que me vai
nesse exato instante
poderia ser sobre medo.
Poderia também
dizer do quanto é cedo.
Do perigo do segredo.
Ironicamente,
nesse poema do que sinto agora
caberia igualmente
inverter sílabas e
falar sobre o encantamento doce
que misturou aromas e histórias
dispensando até o vir da aurora
como se última aquela noite fosse.

(A lua brinca com palavras indizíveis.)


domingo, 15 de junho de 2008


*Photo: Phoebe Dunn



La vie en blue

É noite fria. Chove.
Há um beijo lembrado
que aquece uns sonhos
mas não cessa o frio
ao redor da ausência.
Da chuva de inverno,
gotas esfaceladas
cantam certa falta
ensaiam uma querença.
Por companheiros,
um cigarro apagado,
chocolates preto e branco
e uma incerta saudade.


quinta-feira, 12 de junho de 2008



*Photo: Maria Muller



unu et idem

É a matéria da qual somos feitos.
Você percebe também?
Somos feitos do mesmo
pedaço de sonho carmim.
E somos mais que dois,
muitos, tantos, outros
os que estão por vir.
Somos siameses de coração
felinos de desejos aguçados
caminhamos nos equilibrando
entre muralhas da China
e torres brancas de Taj Mahal.
Somos seres habitantes
do paralelo, do lado de lá,
da margem sutil do improvável.
Dicotômicos, paradoxos,
completamente complexos
simples feito algodão-doce.
Trazemos na alma o segredo
de saber que o mundo
à parte mundo, à parte tosco,
pertence a nós, aos que pulsam forte,
aos que só sabem seguir
simetricamente alinhados ao infinito.
Porque sonhos se reconhecem.
E é quando eu te sinto aqui
o único instante perene
em que todo o nonsense do mundo
passa a fazer algum sentido.
E já não importa se é noite, frio ou aurora
importa tão somente é me perder
na imensidão desconhecida do teu olhar.

(E é só então que eu,
viajante, andarilha, estrangeira,
me sinto, enfim, em casa.)

domingo, 8 de junho de 2008



*Photo: Images.com



Just Like Queens Use To Do


Fica aqui definido
decretado, sentenciado:
Amor agora
só aceito se for imenso.
Grande o bastante
para preencher o dia
mais que uma cama vazia
que noites de lua vadia.
Amor agora
tem de transbordar meu tempo
encharcar o oco do meu espírito
existir no vento, no riso, na dor,
nos dias bons e nos de nem tanto.
Amor agora
só ser for suficiente
não apenas para inspirar versos
mas para preencher
cada pequena fresta caída
entre cada letra vermelha
todos os meus poemas de amor.


domingo, 1 de junho de 2008

Photo: Images.com



Há Mais de Três Mil Anos

Teu olhar me conta estórias
que não caberiam só nesta vida.
Eu me vejo nelas, parte delas,
sem saber ao certo como poderia,
mesmo sabendo de alguma forma que sim.
Lembra de quando fomos reis e rainhas?
Plebeus, mártires, dragões alados e
donzelas à espera de nós também, príncipes
incautos nascidos da mais reluzente quimera?
Teu olhar é tela, me relembra amores,
ódios, afetos, algumas dores, sintonia.
Teu olhar é vasto, me relembra da amplitude
dos sonhos; dos que somos e dos que fomos.
Teu olhar é segredo, porque há ainda
o teu caminho, só teu, assim como há o meu.
Mas, o que mais me espanta,
é que feito espelho-lago de Narciso,
teu olhar profundo, de água clara e tempestade
reflete minh’alma com fiel delicadeza
à risca e com riqueza de traços.