sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

*Photo: images.com


basium


E esse silêncio musicando a tua boca.

O mundo, mudo.

(eu não mudo: emudeço)

Teu rosto perto

Ação calada,

o beijo desfia os dizeres desejados.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

*Photo: Nuno Belo
Blecaute


É assim. Como quando você está só em casa e acaba a luz. Eis que não existe mais nem um palmo à sua frente. E pensamentos invadem sua cabeça como por exemplo, “esqueci de comprar velas”. Não, em meio à claridade dificilmente se lembra de ter velas em casa, ou uma lanterna. E você não sabe bem o que fazer com aquele desconforto do acaso colocando-se entre você e seus planos. Escuridão de ações. Entretanto, veja, uns minutos e, assim que seus olhos se acostumam, você passa a enxergar nuances sob o escuro. Alguns vultos começam a se deixar vislumbrar. O abajur, o tapete, o cachorro. O contorno da mão a tatear o que devia estar por ali mas não.
É assim. Como quando você está só em casa, no escuro, e a luz retorna. O medo passa, você liga o som, a tv, o micro, talvez devido à época, o pisca-pisca com motivos natalinos. A vida retoma seu rumo e volta a alargar o passo. Você. Você segue mais confiante, achando que agora tem mais controle: pensa enxergar o palmo há pouco sumido da ponta do próprio nariz recém-reencontrado. É a luz. A luz traz uma certa impressão – tola e surreal talvez – de que você enxerga o que vem, logo ali, mais à frente.
Deveria ser. Assim. Mas não.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007





*Photo: Tuta



Medicina alternativa

Da janela me espreitam
esses fantasmas famintos
Essa dor aguda no peito
pode ser ausência afiada
pode ser mal de Chagas
hipocondrice à meia-noite
crise de solidão mal curada.
Sei que dói,
dor sem nome
sem saber direito onde
sem prever ao certo quanto
sem fazer alarde, sem vestigiar.
Mas existe e excede. Presente como ar,
elefante branco no meio da sala.

Fecho a janela.
Ainda dói.

Amanhã, com coração descansado
(de alguma forma
que ainda não sei como,
refeito e desdoído)
esperarei que nasçam em meu quintal
girassóis alucinógenos medicinais
contra essa dor de não-sei-porquê.